Opinião - "Os Frutos do Vento" de Tracy Chevalier | Editorial Presença


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Opinião:
“Os frutos do vento” foi mais uma das leituras para variar o estilo, contudo esta revelou-se uma surpresa agradável.
Tracy, a autora, convida-nos a entrar na máquina do tempo e viajar para meados do século XIX, até Black Swamp, no estado do Ohio|USA. Por lá vamos conhecer e acompanhar as amarguras da família Goodenough, que acaba de se decidir a mudar do Connecticut para o Black Swamp.  James e Sadie, são um casal com bastantes problemas entre eles, que perdem 5 dos seus filhos, e vêem de forma complicada a sua adaptação a Black Swamp, pela febre dos mosquitos que assola os pântanos, pelo isolamento em que se encontram, etc…

O livro divide-se em 2 partes, a parte que se passa no berço familiar dos Goodenough durante a sua estadia com os filhos em Ohio, e outra parte que acompanha a vida após Robert ter fugido de casa após assistir o incidente que acontece em sua casa, e deixar assim a sua família para trás.

James trabalha na dureza do campo, um cultivador de obcecado pelas suas macieiras e procurando o sabor perfeito para aquilo que acredita serem as Golden Pippins, com as visitas constantes de John Chapman querendo mostrar que cada dia o sabor das suas maçãs era o melhor entre os melhores. Não sei mas James, a início era um homem severo e frio, que batia na mulher, que impunha respeito pela sua presença, acaba por no avançar do livro se tornar mais calma e paciente, ignorando as loucuras da mulher e sendo mais amigável dos filhos. Talvez seja um sofredor daquilo que ela lhe faz e crer que não é justo.

Sadie, a esposa de James, passa os dias embriagada com a sua cidra retirada das macieiras do marido, sempre em guerra por querer maior produção de maçãs para cidra do que maçãs de qualidade para venda e assim ajudar a gerar rendimentos para alimentar os filhos. Trata os filhos de forma crua e severa, contudo Robert o seu filho mais velho, é tratado com especial atenção. Sadie por vezes até é uma personagem que nos faz ter pena dela pelos desgostos que a vida lhes traz, pela morte de 5 dos seus 10 filhos, e também pelos actos que James tem, quando lhe bate. Ficamos do lado dela sem julgar o seu comportamento, contudo noutras alturas faz-nos sentir revolta pelas atitudes que apresenta, como trair o marido em frente dos filhos e dele e depois queixar-se que lhe dói a dita a cuja, ou fingir-se de doente para ter atenção dele ou outro homem como por exemplo Johnny Chapman, utiliza um linguagem pouco própria para colocar aqui um exemplo, mas Sadie é assim – espera, fria e ao mesmo tempo estranha.

Robert, é o filho do casal Goodenough, que cedo foge de casa e se faz à vida, no meio de tanta aventura e luta pela vida, acaba por demonstrar que nos ensinamentos do seu pai está aquilo que o fará vencer. É um rapaz forte, muito calado, trabalhador e sempre em busca daquilo que gosta, leal ao seu trabalho. Acaba por conhecer o amor, numa prostituta da época, que procurava o tal homem rico que encontrasse a pepita de ouro maior, contudo fora Goodenough que lhe conquistara e com quem partira à descoberta do mundo. Com ela veio um novo rumo ao livro, digamos que algo de engraçado, pois é uma personagem animada, desinibida e desenrascada. 

A autora, surpreendeu-me com o uso de personagens bem reais, como a lenda viva Johnny Appleseed que foi fulcral na propagação do cultivo de maças por vários estados dos USA. Também pela personagem William Lobb, que foi um grande exportador de sementes / plântulas para criação de bosques no Reino Unido, nessa altura dos colonos americanos.

Foi curioso como durante a leitura tive tantos baixos, mas logo de seguida vinham os altos, quando as narrativas entre personagens eram alternadas. Por diversas vezes dava-me uma vontade de querer avançar e descobrir que mal pior poderia acontecer àquela família, que mais parece amaldiçoada até ao último elementos. Não sei que mais poderia a autora acrescentar para tornar ainda mais triste a vida desta família.
O sofrimento, é transmitido de tal forma, e todo o cenário daquela época, parece mesmo como referi atrás, uma viagem no tempo. 
Personagens com pouca cultura, analfabetas, numa luta de miséria e cheias de necessidades. Consigo perfeitamente imaginar os cenários da imigração que aconteceu nessa altura, da febre do ouro, de tudo aquilo que se passou. 

Dei por mim a ir à web pesquisar mais sobre Black Swamp no Ohio, mais sobre as personagens reais, e sobre aquilo que se traduz no livro, e ali estava tudo tal e qual Tracy criara perfeitamente numa escrita bastante composta e com uma descritiva rica, esta livro foi uma surpresa. A capa traduz exactamente a antevisão daquele dia, o tal onde tudo piora e traça o destino de Robert. 
Tracy tem também o livro “A última fugitiva” com a Editorial Presença, mas apesar de se passar na mesma época, não é uma continuação deste.

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