Sobre livro:
Nelson Dyar, um jovem americano cansado da monotonia da sua vida de empregado bancário, chega, depois da Segunda Guerra Mundial, à Zona Internacional de Tânger para começar uma nova vida. Wilcox, um vago conhecimento de infância, oferecera-lhe emprego na sua agência de viagens. Transposto para um meio que lhe é totalmente estranho, Dyar vagueia perdido entre os salões dos residentes ocidentais e os bares e bordéis da casbá e entre as duas culturas - a árabe e a ocidental -, sem compreender nenhuma das duas.
Paul Bowles retrata as figuras dessa sociedade que tão bem conheceu e inclui mesmo uma caricatura de si próprio. Dyar é, no entanto, uma personagem totalmente inventada. Um zé-ninguém, uma vítima, como ele próprio se descreve, com uma personalidade que se define apenas em termos da situação, alguém que nunca viveu. Retirado do ambiente ordenado em que existira até então, Dyar não consegue interpretar as reações daqueles com quem se cruza: Hadija, a pequena prostituta, a terrível Eunice Goode, Thami, o contrabandista árabe que faz a ponte entre os salões do palácio dos Beidaoui e os bares da casbá, Daisy de Valverde, Wilcox, com os seus negócios escuros, Madame Jouvenon e a espionagem, os berberes e o povo das montanhas, a população dos bairros indígenas e os cambistas judeus.
A chuva cai incessante, transformando em rios as ruelas da casbá e marcando as alterações do estado de espírito de Dyar. Se o céu do romance O Céu que Nos Protege era vasto e azul, o céu de Deixa a Chuva Cair, também omnipresente, é opressivo e escuro. A chuva que teima em cair, as nuvens que se acumulam, as ondas do estreito de Gibraltar, o vento que assobia e faz bater a porta da cabana nas montanhas acompanham o percurso de Dyar até ao abismo inevitável.
Sobre autor:
Paul Bowles nasceu em Queens, Nova Iorque. Aprendeu a ler aos quatro anos e manteve diários escritos e desenhados desde essa idade. Com nove anos, começou a estudar teoria da música, canto e técnicas de piano. A partir de 1928, frequentou a Universidade da Virgínia e, em 1929, iniciou-se nas viagens, passando uma temporada na Europa. Voltou a Paris em 1931, onde conviveu com Gertrude Stein, Jean Cocteau e Ezra Pound; continuou por Berlim, onde se tornou amigo de Christopher Isherwood e visitou Kurt Schwitters em Hanôver. Foi também nesse ano que viajou pela primeira vez até Tânger, onde viveu grande parte da vida e acabou os seus dias. Em 1937, Bowles conheceu a escritora Jane Auer, com quem partiu de imediato em viagem para o México e com quem se casou no ano seguinte. Mantiveram um casamento aberto, por vezes turbulento, com viagens ora a uni-los ora a separá-los, até à morte de Jane Bowles, em 1973. Nos anos 50, vivendo grandes períodos no Norte de África, Bowles conheceu o marroquino Ahmed Yacoubi, que se tornou seu companheiro íntimo nas décadas que se seguiram e em muitas viagens. Esses anos foram também marcados pela visita e permanência das principais figuras da Beat Generation em sua casa, em Tânger.
Imprensa:
«O talento de Bowles para lidar com o macabro, o onírico, o cruel e o perverso de uma forma genuinamente imaginativa.»
The New York Times